Naquela hora, não quis dizer tanta coisa que me passou pela cabeça. Talvez seja exatamente essa a forma de começar um texto cínico sobre algo que não começou. Talvez a verdade venha muito bem a calhar agora, e seja ela a única vestimenta que me sirva então.
Só que, dessa vez, escondo-me por detrás das cordas, uso as cortinas de proteção. Em verdade, uso as letras duras do computador, uma igualzinha a outra, para fingir um texto que qualquer um poderia escrever. Daí, então, posso ser sincera (não que já não o tenha sido em demasia por uma noite só), posso ser aberta, transparente, sem ser ao mesmo tempo frágil e despedaçável.
Chega de enrolação, ou as cordas da marionete acabarão por partir-se e aí posso eu perder-me, ou ela perder-se, e o sentido perder-se, o texto tornar-se vão (como já se torna agora...). Não ouso brincar mais com seus (nossos?) sentimentos. Já basta.
Antes de tudo, que fiquem claras as brincadeiras, para que você nunca pense em mim como uma pessoa interesseira e cruel. Eu não o usei. Eu sequer pensei em usá-lo algum dia. E digo isso do fundo do meu coração, eu não fui essa cretina que talvez uns pensem. Espero (e tenho quase certeza) de que isso não passou pela sua cabeça, já acho que hoje cheguei um pouco mais perto de te entender. Você, que é pouco complicado, mas que cheio de sentimentos se torna quase um mar tempestuoso, e faz chover com poucas palavras. Eu te disse que você é perfeito (e você deu a resposta perfeita), por isso, não pense que o chamava para que saíssemos a três. Não foi para me aproximar dele. Não foi para fazer ciúmes... Não foi para me sentir amada. Não foi nem com qualquer outra mísera intenção que não a de “te conhecer”. E, “te conhecendo”, quem sabe não encontrar “um puta amigo”. Fui muito bem sucedida, só não soube a hora de parar.
Eu não fui escrota de graça, não deixei isso acontecer porque “você forçou”. Não precisa pedir desculpas. Era óbvio, você viu o sorriso nos meus lábios e dele você provou, você sentiu meu abraço sem resistência e nele se aconchegou, eu pedi “desculpas” quase um zilhão de vezes, nenhuma delas por me sentir mal pelo que eu fiz comigo, somente pelo que fiz com você. Não me torno boazinha por pensar assim, apenas egoísta e teimosa. (E retardada mental, mas isso já são outros quinhentos.)
Também não escolhi a pior pessoa do mundo que eu podia escolher e falei seu nome em vão... Isso você bem sabe que é verdade. E como você lida com essa verdade, eu realmente não faço a menor ideia. Não foi desculpa e não foi ao acaso. Foi ele, é ele, não é certo (mas também não é errado), não é certeza.
Não é definitivo.
E, por último, não aceite minhas desculpas. No final das contas, “desculpa” não passa de um passe livre disfarçadinho. Pegue a palavra por si só, pura polpa. Desculpe-me. Tire minha culpa. Livre-me de minha consciência pesada, por uns momentos, deixe-me isenta, enquanto você tritura tristeza dentro de seu ser esmigalhado. Isso, desculpe-me. Permita que eu finja que nada aconteceu, que você não existiu, que eu resisti, e que agora posso fazer o que quiser sem me importar com porra nenhuma a meu redor. Sem me preocupar com você?
Não me desculpe, não há motivos para isso. A culpa vai ficar guardada, como uma cicatriz que, ao latejar, me relembra do que passamos. É isso que eu quero. Não para remoer. Apenas para lembrar de você, talvez sem dor no futuro, talvez sem dor agora, e talvez os sentimentos sejam realmente confusos de interpretar...
Já posso me calar agora? Pelo menos, as palavras se foram.
“Construa memórias”.
Sim, sim, elas com certeza estão aqui, firmes como uma represa.
E que venha o futuro, tão inesperado quanto a névoa que nos circundava na praia...
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