O começo tá valendo:
'Uma vez, eu participei de um curso de “Comunicação de Más Notícias”. Acabou que eu fiz o papel da médica e um veterano meu, o papel do paciente. De alguma forma, tinha que lhe contar sobre um osteossarcoma na tíbia, extremamente dolorido, que provavelmente lhe levaria à amputação do membro inferior. Ele era um “atleta jovem e promissor” (as palavras ainda ecoam na minha mente, não importando se era apenas uma intepretação). Meu veterano atuou perfeitamente. Desequilibrou-me.
Eu que havia escolhido a notícia que queria dar. A mais difícil para mim. Uma amputação... Quantas partes de você são necessárias para tornar você... você? Qual pedaço é mais importante? Até que ponto podem arrancar-lhe flocos sem que você se desfaça? Até quanto tempo depois você pode continuar chamando aquelas partes arrancadas de “suas”?'
A continuação desse texto envolve você e eu. E foda-se.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Dando tempo ao Tempo...
Um segundo pode valer quanto?
Um segundo pode engolir o mundo. O Tempo é o verdadeiro buraco negro, é aquele que some com o que quer que seja. Envelheço e renovo meus pensamentos, somos todos fênix apavoradas com medo do fogo. Mas a destruição pode ser tão bela, meu bem...
O Tempo me desgasta carinhosamente, é a brisa, é o sol, é a vida que corre solta. O amor que me sorri é ti também, Tempo. São os dias felizes que estão ali marcados, em algum lugar da enorme sequência da existência, que se desenrola lá nas nuvens e dentro de nós, traduzidos num filamento duplo e único em cada um.
És tão romântico, Tempo! És tão discreto. Por vezes não te noto. Teus carinhos me embalam e vedam a visão, diz-me “fechai esses tolos olhos”. Tolos até onde? Tolos até quando? Tolos até que tu resolvas que já não é mais a hora de fazer-me tola, até que os segundos desmistifiquem um mundo inteiro, doce, azedo, não importa – é um mundo novo. Moldado pelo Tempo, escondido minuciosamente pelas horas até que me fosse a hora de descobri-lo... descobrir-me.
Tu és sábio, Tempo. Tu não te distrais com Justiça ou Beleza, manténs a devida distância para não perderes teu foco. Imagina então se tivesses que governar com a ajuda de duas incompetentes fofoqueiras... Ah, aí então terias que ouvir reclamações humanas simplórias, as quais um certo deus já não aguenta mais. Fazes bem em manter-te isolado, apagando e recriando a vida, retocando, inventando, experimentando.
Quanto de ti precisarei para esquecer as mágoas? Quanto de ti ainda me resta até que eu reconheça a continuação do ciclo? Preciso do teu veneno para continuar vivendo, nem que seja por um pouco mais; desejo-te, mesmo sabendo que isso só prolongará meu sofrimento...
Quanto de ti preciso para ouvir aquelas palavras novamente, Tempo? Se ao menos compreendesses... Ah, se compreendesses deixarias de ser sequencial, lógico, cronológico. Se compreendesses, se tivesses sentimentos, seríamos então dois tolos, e nada poderias fazer por mim. Ainda prefiro jogar no escuro a enxergar um mundo estático.
Quanto tempo, Tempo?
Um segundo apenas?
sábado, 19 de novembro de 2011
Após você.
Gosto de coisas que existem por um motivo... Exceto o amor.
Ubíquo, não há necessidade de apresentar-se formalmente ou justificar-se. Ele há sem causa aparente ou duvidosa; há amor porque há o humano, porque um é outro, e sem homem não existiria amor, e sem amor não existiria homem.
Se o que tem razão nos apetece, num apelo à lógica, enquadrado em definidos conceitos que levam a relações causa-efeito, por outro, o amor nos deslumbra / destrói, em simultâneo paralelismo; buscamos o ponto de encontro entre os extremos, que quiçá não exista sequer no horizonte infinito. Porque, se alguém um dia o encontrar, perde-se a realeza, o barroco some, o véu não só cai como desfaz-se antes de chegar ao chão - e para sempre... E amor vira razão, fórmula matemática, sem sentido e sem aplicação.
Amor equilibrado, onde já se viu?
(Bom saber que ainda sou inocente a ponto de escrever algo tão irracional, ilusório e auto-destrutivo! Ah, alívio!)
Ubíquo, não há necessidade de apresentar-se formalmente ou justificar-se. Ele há sem causa aparente ou duvidosa; há amor porque há o humano, porque um é outro, e sem homem não existiria amor, e sem amor não existiria homem.
Se o que tem razão nos apetece, num apelo à lógica, enquadrado em definidos conceitos que levam a relações causa-efeito, por outro, o amor nos deslumbra / destrói, em simultâneo paralelismo; buscamos o ponto de encontro entre os extremos, que quiçá não exista sequer no horizonte infinito. Porque, se alguém um dia o encontrar, perde-se a realeza, o barroco some, o véu não só cai como desfaz-se antes de chegar ao chão - e para sempre... E amor vira razão, fórmula matemática, sem sentido e sem aplicação.
Amor equilibrado, onde já se viu?
(Bom saber que ainda sou inocente a ponto de escrever algo tão irracional, ilusório e auto-destrutivo! Ah, alívio!)
sábado, 5 de novembro de 2011
Nas poéticas palavras de outrém...
"Essa é a Joana que conheço. Estende a mão, dá um belo apoio, ajuda a quase se levantar e, quando o equilíbrio está quase que completamente recobrado ao corpo, solta a mão e leva o indivíduo a uma nova queda, segunda e humilhante."
(Anônimo, de um amigo folgado)
Existem horas na vida em que paramos e pensamos "está na hora de rever meus conceitos". E existem aquelas outras horas na vida em que pensamos...
"Mas está tudo tão divertido."
Talvez eu não preste mesmo, não porque ache certas facetas da vida divertidas, mas porque me divirto exatamente por acalentá-las em meu âmago. E por usar palavras bonitas com um assunto tão depravado.
---
Essa mesma pessoa me disse que o ser humano não passa de um merda.
Gostaria de dizer para ela que não é bem assim. Que generalizar é feio. E que ela está sendo altamente contraditória quando diz isso. Porque eu não a acho um merda. Porque eu gosto muito dela, mesmo sua auto estima sendo irrisória.
---
Suplico por silêncio em meio à calamidade de minha mente, em cujos cantos o mundo insiste em batucar sem sossego. Ambígua, e como vou agir? Se mal sei como dizer o que sinto, se mal sei o que sinto. Se diversão e pena se misturam numa mesma frase, talvez seja porque não há solução para minha pessoa... Venho descobrindo que "agir" é uma das palavras mais vagas que existem, a partir do momento em que decidi sobreviver.
(Anônimo, de um amigo folgado)
Existem horas na vida em que paramos e pensamos "está na hora de rever meus conceitos". E existem aquelas outras horas na vida em que pensamos...
"Mas está tudo tão divertido."
Talvez eu não preste mesmo, não porque ache certas facetas da vida divertidas, mas porque me divirto exatamente por acalentá-las em meu âmago. E por usar palavras bonitas com um assunto tão depravado.
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Essa mesma pessoa me disse que o ser humano não passa de um merda.
Gostaria de dizer para ela que não é bem assim. Que generalizar é feio. E que ela está sendo altamente contraditória quando diz isso. Porque eu não a acho um merda. Porque eu gosto muito dela, mesmo sua auto estima sendo irrisória.
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Suplico por silêncio em meio à calamidade de minha mente, em cujos cantos o mundo insiste em batucar sem sossego. Ambígua, e como vou agir? Se mal sei como dizer o que sinto, se mal sei o que sinto. Se diversão e pena se misturam numa mesma frase, talvez seja porque não há solução para minha pessoa... Venho descobrindo que "agir" é uma das palavras mais vagas que existem, a partir do momento em que decidi sobreviver.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
nanômetros
Lembra quando eu disse que não me arrependo de nada nessa vida?
Pois eu deveria ter olhado em seus olhos debaixo da chuva...
Pois eu deveria ter olhado em seus olhos debaixo da chuva...
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Marionnette.
Naquela hora, não quis dizer tanta coisa que me passou pela cabeça. Talvez seja exatamente essa a forma de começar um texto cínico sobre algo que não começou. Talvez a verdade venha muito bem a calhar agora, e seja ela a única vestimenta que me sirva então.
Só que, dessa vez, escondo-me por detrás das cordas, uso as cortinas de proteção. Em verdade, uso as letras duras do computador, uma igualzinha a outra, para fingir um texto que qualquer um poderia escrever. Daí, então, posso ser sincera (não que já não o tenha sido em demasia por uma noite só), posso ser aberta, transparente, sem ser ao mesmo tempo frágil e despedaçável.
Chega de enrolação, ou as cordas da marionete acabarão por partir-se e aí posso eu perder-me, ou ela perder-se, e o sentido perder-se, o texto tornar-se vão (como já se torna agora...). Não ouso brincar mais com seus (nossos?) sentimentos. Já basta.
Antes de tudo, que fiquem claras as brincadeiras, para que você nunca pense em mim como uma pessoa interesseira e cruel. Eu não o usei. Eu sequer pensei em usá-lo algum dia. E digo isso do fundo do meu coração, eu não fui essa cretina que talvez uns pensem. Espero (e tenho quase certeza) de que isso não passou pela sua cabeça, já acho que hoje cheguei um pouco mais perto de te entender. Você, que é pouco complicado, mas que cheio de sentimentos se torna quase um mar tempestuoso, e faz chover com poucas palavras. Eu te disse que você é perfeito (e você deu a resposta perfeita), por isso, não pense que o chamava para que saíssemos a três. Não foi para me aproximar dele. Não foi para fazer ciúmes... Não foi para me sentir amada. Não foi nem com qualquer outra mísera intenção que não a de “te conhecer”. E, “te conhecendo”, quem sabe não encontrar “um puta amigo”. Fui muito bem sucedida, só não soube a hora de parar.
Eu não fui escrota de graça, não deixei isso acontecer porque “você forçou”. Não precisa pedir desculpas. Era óbvio, você viu o sorriso nos meus lábios e dele você provou, você sentiu meu abraço sem resistência e nele se aconchegou, eu pedi “desculpas” quase um zilhão de vezes, nenhuma delas por me sentir mal pelo que eu fiz comigo, somente pelo que fiz com você. Não me torno boazinha por pensar assim, apenas egoísta e teimosa. (E retardada mental, mas isso já são outros quinhentos.)
Também não escolhi a pior pessoa do mundo que eu podia escolher e falei seu nome em vão... Isso você bem sabe que é verdade. E como você lida com essa verdade, eu realmente não faço a menor ideia. Não foi desculpa e não foi ao acaso. Foi ele, é ele, não é certo (mas também não é errado), não é certeza.
Não é definitivo.
E, por último, não aceite minhas desculpas. No final das contas, “desculpa” não passa de um passe livre disfarçadinho. Pegue a palavra por si só, pura polpa. Desculpe-me. Tire minha culpa. Livre-me de minha consciência pesada, por uns momentos, deixe-me isenta, enquanto você tritura tristeza dentro de seu ser esmigalhado. Isso, desculpe-me. Permita que eu finja que nada aconteceu, que você não existiu, que eu resisti, e que agora posso fazer o que quiser sem me importar com porra nenhuma a meu redor. Sem me preocupar com você?
Não me desculpe, não há motivos para isso. A culpa vai ficar guardada, como uma cicatriz que, ao latejar, me relembra do que passamos. É isso que eu quero. Não para remoer. Apenas para lembrar de você, talvez sem dor no futuro, talvez sem dor agora, e talvez os sentimentos sejam realmente confusos de interpretar...
Já posso me calar agora? Pelo menos, as palavras se foram.
“Construa memórias”.
Sim, sim, elas com certeza estão aqui, firmes como uma represa.
E que venha o futuro, tão inesperado quanto a névoa que nos circundava na praia...
sábado, 27 de agosto de 2011
Mad sin.
Mais de ‘mad’ do que de ‘sin’ propriamente dito. Só eu acho que estou cometendo uma loucura? Lembro das palavras dele, “e quem é o louco agora?”. Acho que só de eu estar enfrentando essa rotina, já me torno a mais louca de todas...
E, ainda assim, desistir é impossível. Estou atrelada a esse fato como um ser humano que se crucifica, por vontade própria, a seus deveres de prima, pai, irmão. Amo-a como se fosse minha filha, ou talvez mais que isso. Uma mãe? Um pouco mais próximo, uma mãe com tanto a me ensinar, uma mãe na qual me espelho em busca da perfeição, e mesmo assim uma mãe que está dentro de mim, pulsante como meu próprio coração. Uma mãe que me consome, me exaure, mas me excita, me conquista, me encanta como... Deus! Exatamente como isso. Uma deusa. Uma obsessão. Uma religião.
Meu maior pecado.
Por ele, respondo a todos os processos. Há um momento na minha profissão em que a causa se apaga, digo, a causa original. A vida e a morte. Nós simplesmente tentamos ignorar essa segunda! Se pudéssemos, o ciclo viraria uma linha reta, talvez não no sentido geométrico da coisa, porque um dia ela haveria de terminar (e aí deixaria de ser uma reta rumo ao horizonte)... O que ocorreria se alcançássemos sempre nosso objetivo? O que aconteceria se pecássemos ainda mais, como humanos, como filhos de Deus, e nos interpuséssemos – com a melhor das intenções que Ele nos deu – no meio do nosso próprio caminho? E chutássemos a morte para algum canto úmido e embolorado, totalmente esquecida e perdoada? Justificativas nos fariam menos pecadores? Deus arrepender-se-ia de ter-nos feito dessa maneira?
Nessa corda bamba, já não sei mais diferenciar minha loucura de meus pecados. Sequer vejo sentido em determinar-me dessa maneira. Saberia ser errada apenas. Errada tentando correr pelo caminho certo e nobre. Salvando vidas afogada num mar de sangue e mortes que me cercam dia sim, dia sim. Até que ponto Deus me permite continuar, eu não sei. Se serei (mais) castigada ao final de tudo, eu não sei. O que meu coração me diz para fazer, isso eu sei, com a certeza divina tão oposta ao saber e tão próxima do amor devoto. Sei que sou religiosa agora. Deposito toda a minha fé e o meu amor na vida, e só nela. Ao mesmo tempo em que me acostumo ao mundo em volta de uma maneira totalmente anti-humana, torno-me ainda mais humana no sentido visceral da coisa.
Aos poucos, talvez chegue mais perto do início... Viro essência.
Quem sabe, não seja esse o objetivo afinal de contas.
Pode ser que eu perceba ao final de tudo que não passou de um “mad sin” sem sentido e insuficiente... Mais uma dessas estranhas necessidades da natureza humana. Extraordinário, para o bem ou para o mal.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Sangue de unicórnio
Eu nunca lhe havia escrito um texto... A hora é agora.
Há certos momentos na vida que ficam na memória para sempre. Depois de um tempo, até os ruins passam a ser bons na companhia certa. Acredite, nem que eu me esforce consigo turvar as lembranças do vento batendo nos olhos, marejando-me. Houve vezes até em que passeamos só eu e você, e era exatamente essa a intenção; que ninguém nos atrapalhasse, a filosofar pelas estradas de terra...
Devagar, rápido, curto, longo, chuvoso, ardente, verde, castanho, nublado, céu azul, enluarado, somente estrelas, cada passeio com sua peculiaridade... Todos igualmente marcados. Aquela vez em que você avançou pela baia comigo (essa é a lembrança mais forte de todas, e hoje me é tão boa!), pelo topo de todos os morros, fugindo daquele cavalou louco (hoje tão mirrado) no caminho da Dona Carmen, a própria Dona Carmen com uma espingarda na mão na janela (que já se foi), o Seu Moacir enfraquecendo, também indo aos pouquinhos... E hoje, você, minha querida.
Desde os quatro anos, quem diria! E no início eu enguiçava tanto para montar. Não fosse meu pai insistindo por anos, e esse amor não existiria... nossa, que tristeza isso me dá hoje. Prova do tanto de coisas que você me ensinou. A ser paciente. A gostar de velocidade. A dar carinho. A experimentar o novo. A ficar sozinha, a dividir companhias, a curtir a brisa – especialmente curtir a brisa. Se gosto tanto disso hoje, tenho certeza absoluta de que a culpa é inteiramente sua.
Divina da Atividade, uma deusa em seu véu branco, crina cinza chacoalhando na sequência do vento. Que marcha, que galope, cheirando meu pé de bota como quem quisesse me morder, lembro-me bem. Sem contar as duas vezes em que você pisou no meu pé, achei que fosse ficar manca pela eternidade. Mãe e avó, quem sabe bisavó também, não sei o que se sucedeu com seus filhotes lindos: Surpresa, Pancho e Natalina.
Todas as vezes que preparei aquele seu “bolo” de farelo com folhas de bananeira, ou milho, ou banana! Quando você me oferecia a cabeça para tirar a rédea, achava aquilo o máximo, e pensava como podiam dizer que animais não pensam. Se não pensam, sentem. Quem sabe fôssemos só emoção e não seríamos mais felizes.
Obrigada por ter feito parte da minha família por catorze anos. Bom descanso agora, depois de todo esse tempo de luta. Morrerei de saudades, mas viverei por ti, minha querida Divina, minha eterna eguinha branca que espera por mim quando grito seu nome.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
É questão de distância...
Agente junto
Não é da CIA
Da KGB ou da Titia
Agente junto
Não é erro nem desvio
Nem sai do rumo do rio
A regra é que errou
(Na verdade por ser regra
Já está errada)
Agente junto
Não mede nível social
Não quebra o formal
Não machuca ninguém...
Muito pelo contrário!
Sem nem ser arbitrário
Engulo o espacinho entre nós dois
E entre um beijo e mais um
Agente se satisfaz do desjejum
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Tem vezes que eu olho pra mim no espelho e rio por ser tão original
Tem vezes que eu olho pros outros no espelho e choro por ser tão marginal
Tem vezes que eu olho para todos na rua e vejo que somos um todo igual
Tem vezes que eu olho pra você na minha frente e penso que podia ser a tal.
No fim das contas, ser toda diferente
É só uma parada que depende.
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